A Igreja Católica<br>e as políticas da pobreza em Portugal
O estendal das vergonhas da política portuguesa vai continuando a exibir-se sem qualquer pudor. É agora a vez de um PSD esfarrapado ser transformado em vedeta pelo toque mágico da varinha de condão da propaganda do Estado socialista que o continua a declarar, no entanto, como partido de oposição. Tudo isto parece contraditório mas não é. O caciquismo, as guerras dos barões, distraem a opinião pública do essencial que são as questões da vida, do desemprego, da corrupção pública e privada, do trabalho, da educação, etc., etc. Tudo isto, enquanto os interesses privados e públicos de governantes e privilegiados, leigos e eclesiásticos, se identificam e confundem uns com os outros.
Em todo este pantanal a igreja portuguesa tem tido um desempenho lamentável que põe de rastos a sua auto-proclamada intenção de «denunciar e anunciar». Se denunciasse a mentira e a corrupção arriscaria a unidade dos seus próprios interesses, estreitamente ligados ao mundo financeiro. Se anunciasse a justiça social como teoria e prática comum e obrigatória da igreja, do povo e das instituições religiosas, fragilizaria as suas alianças ocultas – mas que se vão evidenciando - com o Poder e com as esferas dos que dominam o mundo dos trabalhadores, dos pobres e dos excluídos. As hierarquias católicas são muito experientes nestas andanças e, assim, preferem agir pelo seguro. Calam-se e escondem-se.
O báculo e o país real
Num país como o nosso, cada vez mais na cauda da Europa e cada vez menos desenvolvido, a «vedeta de serviço» é, de momento, o Ministério do Trabalho, o seu ministro e o monstruoso Código do Trabalho cozinhado a fogo vivo.
Recorde-se que idênticas posições de destaque negativo já ocupadas pelos responsáveis das pastas da Saúde, da Educação, das Finanças, da Cultura, em suma, por uma roda viva de ministros e de ministérios. Sobem à cena, mostram-se ao público e voltam a desaparecer. Os problemas mantêm-se e agravam-se. O país e as instituições do Estado ficam cada vez mais pobres e desautorizados.
No entanto, um certo clima de debate público que se gerou em torno da proposta «dura» de Vieira da Silva e da revisão laboral que ela implica, permitiu saber-se que
o mundo do trabalho em Portugal se pode desenhar deste modo : cerca de 5 milhões de cidadãos são oficialmente considerado como tendo emprego; mas o total referido oscila muito em termos de direitos e 3 milhões terão emprego certo. 800 mil trabalhadores serão eventuais e a termo, com estatuto de «recibos verdes». Na área do restante milhão de postos de trabalho reina a maior anarquia e existe uma massa amorfa de «trabalhadores por conta própria», uma classificação elástica que ninguém sabe ao certo o que é e a que corresponde. Estes números, naturalmente, são altamente oscilantes e têm de ser considerados a partir do crescimento constante das declarações de falência, das fusões que arrastam supressão de postos de trabalho e, a curto prazo, do conceito de «inadequação», um poço sem fundo que os socialistas pretendem introduzir nas relações de trabalho. É sobre este universo que o governo socialista pretende legislar, sem escrúpulos políticos e com o maior desprezo pelas famílias e pelos trabalhadores.
A Igreja já teve muitas oportunidades para denunciar estas situações. Mas os bispos católicos preferem fingir que não percebem e que apenas lhes interessa a vida eterna.
Aguardam que os frutos da miséria amadureçam e acabem por cair-lhes no colo os monopólios da Saúde, da Educação, do Trabalho, da Cultura, da Segurança Social. São contas de milhões e o regresso ao Eldorado eclesiástico. A técnica adoptada é evidente. “ O silêncio é oiro “. Há miséria ? A culpa é dos pobres. Na pobreza, entra-se e sai-se. «Metade dos pobres foi capaz de mudar a sua condição social», declara com o seu «encantador» optimismo o «ingénuo» padre Maia. E um outro sacerdote social, o padre Jardim Moreira, confirma: «A pobreza persistente é só uma parte, senão estávamos perdidos. Há sempre quem, por intermédio da educação, da formação, do emprego, consiga «dar a volta»; como há sempre quem «entre no desespero», caia na situação de desemprego, de doença, de velhice...». Tudo é rotina e, se culpas existem, elas recaem exclusivamente nas atitudes erradas assumidas pelos pobres.
Note-se que estes dois homens não são uns cidadãos quaisquer : o padre Jardim Moreira é presidente da Rede Europeia Antipobreza e o padre José Maia dirige a rica Fundação católica «Filos» e foi, até há pouco tempo, líder incontestado da Confederação das Instituições Particulares de Solidariedade Social. Declaram ambos defender a tese de que o crescimento do desemprego se deve, essencialmente, à criação estatutária do Rendimento Mínimo Garantido. Em resumo : se há desemprego em Portugal, ele deve-se fundamentalmente à preguiça inata dos trabalhadores e aos subsídios com fumos de socialismo.
Esta é na realidade a filosofia que a Igreja Católica adopta ao confrontar-se com o degradante panorama social português...
Em todo este pantanal a igreja portuguesa tem tido um desempenho lamentável que põe de rastos a sua auto-proclamada intenção de «denunciar e anunciar». Se denunciasse a mentira e a corrupção arriscaria a unidade dos seus próprios interesses, estreitamente ligados ao mundo financeiro. Se anunciasse a justiça social como teoria e prática comum e obrigatória da igreja, do povo e das instituições religiosas, fragilizaria as suas alianças ocultas – mas que se vão evidenciando - com o Poder e com as esferas dos que dominam o mundo dos trabalhadores, dos pobres e dos excluídos. As hierarquias católicas são muito experientes nestas andanças e, assim, preferem agir pelo seguro. Calam-se e escondem-se.
O báculo e o país real
Num país como o nosso, cada vez mais na cauda da Europa e cada vez menos desenvolvido, a «vedeta de serviço» é, de momento, o Ministério do Trabalho, o seu ministro e o monstruoso Código do Trabalho cozinhado a fogo vivo.
Recorde-se que idênticas posições de destaque negativo já ocupadas pelos responsáveis das pastas da Saúde, da Educação, das Finanças, da Cultura, em suma, por uma roda viva de ministros e de ministérios. Sobem à cena, mostram-se ao público e voltam a desaparecer. Os problemas mantêm-se e agravam-se. O país e as instituições do Estado ficam cada vez mais pobres e desautorizados.
No entanto, um certo clima de debate público que se gerou em torno da proposta «dura» de Vieira da Silva e da revisão laboral que ela implica, permitiu saber-se que
o mundo do trabalho em Portugal se pode desenhar deste modo : cerca de 5 milhões de cidadãos são oficialmente considerado como tendo emprego; mas o total referido oscila muito em termos de direitos e 3 milhões terão emprego certo. 800 mil trabalhadores serão eventuais e a termo, com estatuto de «recibos verdes». Na área do restante milhão de postos de trabalho reina a maior anarquia e existe uma massa amorfa de «trabalhadores por conta própria», uma classificação elástica que ninguém sabe ao certo o que é e a que corresponde. Estes números, naturalmente, são altamente oscilantes e têm de ser considerados a partir do crescimento constante das declarações de falência, das fusões que arrastam supressão de postos de trabalho e, a curto prazo, do conceito de «inadequação», um poço sem fundo que os socialistas pretendem introduzir nas relações de trabalho. É sobre este universo que o governo socialista pretende legislar, sem escrúpulos políticos e com o maior desprezo pelas famílias e pelos trabalhadores.
A Igreja já teve muitas oportunidades para denunciar estas situações. Mas os bispos católicos preferem fingir que não percebem e que apenas lhes interessa a vida eterna.
Aguardam que os frutos da miséria amadureçam e acabem por cair-lhes no colo os monopólios da Saúde, da Educação, do Trabalho, da Cultura, da Segurança Social. São contas de milhões e o regresso ao Eldorado eclesiástico. A técnica adoptada é evidente. “ O silêncio é oiro “. Há miséria ? A culpa é dos pobres. Na pobreza, entra-se e sai-se. «Metade dos pobres foi capaz de mudar a sua condição social», declara com o seu «encantador» optimismo o «ingénuo» padre Maia. E um outro sacerdote social, o padre Jardim Moreira, confirma: «A pobreza persistente é só uma parte, senão estávamos perdidos. Há sempre quem, por intermédio da educação, da formação, do emprego, consiga «dar a volta»; como há sempre quem «entre no desespero», caia na situação de desemprego, de doença, de velhice...». Tudo é rotina e, se culpas existem, elas recaem exclusivamente nas atitudes erradas assumidas pelos pobres.
Note-se que estes dois homens não são uns cidadãos quaisquer : o padre Jardim Moreira é presidente da Rede Europeia Antipobreza e o padre José Maia dirige a rica Fundação católica «Filos» e foi, até há pouco tempo, líder incontestado da Confederação das Instituições Particulares de Solidariedade Social. Declaram ambos defender a tese de que o crescimento do desemprego se deve, essencialmente, à criação estatutária do Rendimento Mínimo Garantido. Em resumo : se há desemprego em Portugal, ele deve-se fundamentalmente à preguiça inata dos trabalhadores e aos subsídios com fumos de socialismo.
Esta é na realidade a filosofia que a Igreja Católica adopta ao confrontar-se com o degradante panorama social português...